3 de junho de 2009

”O que os meus olhos viram”














Por: Cecilia Monteiro (*)


Maria Helena Spencer, através das suas crónicas, reportagens e contos conduz-nos numa viagem à literatura cabo-verdiana e portuguesa, condição do género feminino, pedagogia social (incidência na hierarquia), males sociais (como no caso das crónicas “O Que eu vi, uma noite no cais” e”O que os meus olhos viram”, o perfil psicológico do cabo-verdiano, a emigração (parte intrínseca da história do arquipélago), filosofia, problemática laboral e o género, injustiças próprias da condição humana relativas ao bem e o mal , só para retratar uma restrita parte de uma vasta matéria da realidade nacional e universal do todo escrito. Mostrando-se,na respectiva faceta de observadora atenta da realidade e, também de um sentido de justiça que denota-se na descrição da essência teológica(Sentido da vida),forte,bem como um conteúdo intemporal cuja origem remonta à espécie.
Relatar a complexa realidade nacional e universal requer uma sensibilidade incomum ou uma grande dose da mesma e que a autora revela possuir em grande escala. Quese manifesta, também, na descrição quer da realidade (géneros jornalísticos- crónica e reportagem) quer da ficção (género literário-conto). Obra que produz no aspecto formal com realismo. A escrita de Maria Helena Spencer pode ser tida como realista com vocábulos populares- à luz do português contemporâneo (matéria para análise especializada).
A obra revela, de igual modo, uma prosadora talentosa com um imaginário notável.cujo conteúdo tematicamente simples denota uma personalidade com forte pendor nostálgico.
Parafraseando a seleccionadora dos textos, anotadora e coordenadora do vasto espólio de Maria Helena Spencer, Drª Ondina Ferreira, “Tanto as crónicas como as reportagens são autênticos repositórios de informações sociológicas, etnográficas, históricas e ambientais das ilhas, das cidades, dos sítios visitados e descritos pela jornalista”e por outro lado “As narrativas aqui reproduzidas são deliciosos trechos saídos de uma pena hábil, graciosa,sem excessos. Moldados de uma imaginação rica, experimentada e caldeados num realismo que, sem deixar de ser provado,, ele é transfigurado pela estética e pelo simbolismo plurissignificativo da palavra e da ideia inerentes ao texto literário e enformados numa equilibrada literariedade”.
(*) Cecilia Monteiro é jornalista da àrea cultural
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Resenha Biográfica da Autora:
Maria Helena Branco Freire de Andrade Salazar d’Eça Spencer Santos nasceu a 3 de Abril de 1911 na cidade da Praia e falece em meados de 2006 na urbe de Faro em Portugal.
Filha de Laura da Piedade Branco Freire de Andrade Salazar d’Eça Spencer Santos e de João Leandro Spencer Santos, educada pelo “Colégio das doroteias” em Sintra, Portugal, exerceu as profissões de Funcionária dos Correios, Telégrafos e Telecomunicações (CTT), Modista, Professora Primária, além de Jornalista e Repórter “por mais de uma dezena de anos, com crónicas, reportagens e entrevistas no periódico regular e mensal, publicado na Imprensa Nacional, na Praia, de 1949 a 1964”- o boletim CABO VERDE. De cujo conteúdo enforma grande fatia da obra em análise.
Os seus escritos testemunham e expressam, “de forma muito eloquente a preocupação social, humana e pedagógica, com relação a problemas que, ao tempo, afectavam Cabo Verde”, bem como inscreve “profundas e alargadas reflexões” acerca das “movimentações, as crises do mundo, numa pré-visão admirável, que a terminologia de hoje chamaria de globalizada”.
Maria Helena Spencer foi uma Jornalista, Cronista e Contista, “se não a primeira entre nós, seguramente uma das primeiras de intensa e de séria participação” no exercício da cidadania.


Fonte: Spencer, Maria Helena
Contos Crónicas e Reportagens
Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 2005.











2 comentários:

  1. Oi sister, wellcome ao mundo da blogosfera.
    Ta fica ta bem spreita li co frequência, ok?

    Beijinhos,
    Vavá

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  2. Grata pelo tempo e pelas agradáveis palavras dedicadas à obra de minha mãe.
    Filomena Spencer

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